Lembra quando você era criança e te perguntavam ‘O que você quer ser quando crescer?’
Jogador de futebol, professora, bailarina, médico, advogado, veterinária... Cada criança dizia uma coisa com toda a convicção. Não me lembro do que respondia, mas minha família afirma que eu jurava de pé junto que ia ser escritora.
Talvez, talvez...
Nunca tive muita certeza de que profissão eu queria, de que tipo de trabalho gostaria e do que eu realmente levo jeito pra fazer, já que aos olhos de mamãe tudo que faço é a mais nova maravilha do mundo.
Uma coisa é certa: Desde sempre soube que gostava muito de escrever. Estou tentando aprender a fazer isso direito até hoje.
Por muito tempo da minha curta vida (20 anos, ainda sou um bebê, poxa) eu aprendi a rotina de um escritório. O que era uma Xerox, como atender pessoas e telefonemas, datilografia, a chatice que é ter que separar documentos por ordem alfabética antes de arquivar e mais coisas do gênero. Só que eu sempre soube que não era isso que eu queria pra mim.
Não gosto muito de esquentar minha cabeça com problemas, ainda mais com aqueles que não me dizem respeito.
E eis que chegou aquela triste fase, onde o ensino médio e todas as regalias que ele trazia acabaram. A fantasia chegava ao fim e era hora de escolher uma faculdade, pra que teoricamente eu fosse alguém na vida.
Teoricamente.
O lance é que não levo jeito pra medicina e nem para coisas relacionadas á animais. Não que eu não goste de bichinhos, mas não tenho coragem de enfiar uma agulha neles. Também não tenho vocação pra professora, já que não conseguiria ensinar nem mesmo uma formiga a comer açúcar. Não tenho a menor lábia pra nada. Não consigo convencer nem um macaco á comer banana.
As únicas coisas que realmente descobri gostar muito através dos anos foram: Escrever, desenhar e fotografar.
“OK”, pensei eu com toda a ingenuidade do mundo. “Vamos riscar o ‘desenhar’ da lista e fazer faculdade de Jornalismo, já que abrange outras duas coisas que eu me divirto muito fazendo, né? Deve dar certo, né?”
ERRADO.
Jornalismo foi uma das piores opções da minha vida. Mas uma das piores mesmo! Descolorir a mesma mecha do meu cabelo três vezes no mesmo dia foi uma decisão mais inteligente que essa.
O corte químico eu curei, mas o curso ainda está ali, sugando meu tempo, paciência e dinheiro.
Não que o curso seja ruim, sabe? Pra quem realmente gosta do assunto é um mar de rosas. É tudo lindo e gostoso. Só que eu já estou meio que de saco cheio. É diferente do que eu pensava que seria, é mais complicado e bem mais trabalhoso. Fora que você precisa estar com seu celular sempre ligado, esperando uma ligação que te arranque de casa e faça ir trabalhar.
Gosto de ter um horário regrado.
Gosto de rotina.
Decidi terminar a faculdade e ver em que bicho isso vai dar.
Pra conseguir torrar meu bom dinheiro com o curso eu tive que arrumar um estágio, já que a cada semestre a mensalidade sobe um pouquinho. Depois de muito procurar, chorar e enviar currículo até pra marte perguntando se os alienígenas precisavam de um assessor de imprensa, finalmente achei uma vaguinha na prefeitura.
Não exatamente na área do jornalismo, mas ajudava bastante a me expressar melhor, já que eu lidava com o público. Fazia um atendimento bem simples, mas era um bom treinamento pra futuras entrevistas.
Dois anos de contrato.
Não tomei coragem suficiente ainda para ir devolver meu crachá com o número de identificação ‘007’.
A parte triste de tudo isso é que eu me sentia mais confortável e feliz trabalhando em algo que não escolhi. Gostava do horário regrado, do local, do ambiente, das pessoas, do serviço... Tá que era meio cansativo ás vezes, mas o que não é?
E agora vai voltar aquela fase de enviar currículos, fazer novena, correr atrás de indicação, do ciee e de mais uma grande parede de burocracia para conseguir outro trabalho.
A questão é: Que trabalho?
Até agora ainda não escolhi “O que eu quero ser”, e infelizmente eu já cresci. Já tentei fazer até aqueles testes vocacionais pra ver se tirava alguma luz daquilo, mas a resposta é sempre tão vaga...
“Seu perfil combina com disciplinas voltadas para a área artística”
Oh, muito obrigada senhor teste! Isso me iluminou bastante. Tanto quanto um palito de fósforo no meio dum apagão. Realmente revelador.
Pergunto-me se só eu sou indecisa desse jeito ou se é algo comum, mas as pessoas têm medo de admitir. Gosto de acreditar na segunda opção.
Gostaria de ter sido mais convicta naquele lance de ser escritora que eu tinha quando criança. Acho que seria uma boa, mas é difícil tentar entrar de cabeça em uma coisa depois que você se arrepende de um curso.
E é terrível passar as tardes em casa uma vez que elas foram preenchidas por puro trabalho e risada.
Começar a trabalhar é uma coisa bem complicada e cansativa, mas parar é ainda pior. E acho que esse fato se enquadra em qualquer área de atuação.
Jogue as pedras quem não concordar.
E, para encerrar esse post, a frase que mais me descreve no momento: